Trombei: João

Todas as informações a seguir foram coletadas no tempo de eu comer um enroladinho de frango numa lanchonete do lado de casa.

João me contou que nos barracos embaixo do metrô Santana tinha saído uma briga, um cara com um pedaço de pau do tamanho de um taco de baseball correndo atrás do outro. Ali é barra pesada e por isso ele tá sempre acompanhado da Maria Branca, um facão de estimação que ele carrega na mochila (é um facão daqueles de cortar mato num dia de sol com com o Indiana Jones em alguma aldeia de pigmeus).

Mas ele me contou que pro lado que ele mora é mais sossegado, tirando o filho da puta que mora no cortiço que todo dia de manhã coloca muito cloro no banheiro. O cheiro é tão foda que “nem Satanás entra naquele banheiro quando ele faz isso”. João tem planos de cimentar o vaso, só de raiva. “Aí eu quero ver o filha da puta colocar cloro. Eu não tô nem aí, eu cago no boteco mesmo”. A dona da casa é gaga e chama Dona Maria, e o João já avisou ela que o filha da puta põe muito cloro no banheiro às 6 da manhã.

Ele trabalha pra caralho, cobrou R$500 pra fazer um serviço pra uma senhora que pagou ele com uma nota falsa de cem reais no meio. E aí ele vai cobrar dela segunda feira.

Mas o cheiro do cloro que aquele desgraçado coloca no banheiro de lá é uma coisa insuportável, é foda pra caralho, chega a arder os olhos.

Ele também tem três filhos. O mais velho tá no Japão e não dá mais trabalho, mas as duas meninas, de 14 e 16 anos dão “abraço de jacaré” nele, com uma mão já na carteira.  Sabem até a senha do cartão da Caixa, sorte que ele conhece a moça que trabalha lá. Chegando em casa, ainda hoje ele ia cozinhar. Roubou dois sachês de maionese em cima do balcão, pôs o indicador na frente do rosto como quem pede silêncio e saiu.

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